O Museu da Rampa, no bairro de Santos Reis, está com exposições aberta ao público. É a oportunidade dos natalenses e turistas entenderem como se deu a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, a partir da Conferência do Potengi, celebrada em Natal há 80 anos entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, Getúlio Vargas e Franklin Roosevelt, respectivamente. A inauguração do espaço aconteceu justamente no aniversário octagenário do encontro presidencial, no último dia 28 de janeiro e, desde então, mais de 1.200 pessoas já visitaram os acervos originais que contam um pouco da história da cidade.
Miniatura de hidroavião usada por Roosevelt em 1943 está no centro da sala / Magnus Nascimento
O contrato para a implantação do Museu da Rampa foi questionado pelo Ministério Público, que investiga suspeitas de irregularidades. O acordo original, com a Casa da Ribeira, foi suspenso e deve ser extinto, segundo declarou o Governo do Estado em reportagem da TRIBUNA DO NORTE. Com isso, a abertura do espaço ficou a cargo da Fundação José Augusto. As exposições são divididas em cinco espaços. Os interessados podem visitar o acervo disponibilizado no Museu da Rampa de terça-feira a domingo, das 10h às 17h. Nesses dias, os portões ainda ficam abertos até às 18h para que os cidadãos e turistas tenham vista ao pôr do sol às margens do rio Potengi.
A visita começa na sala 'Natal, a Encruzilhada do Mundo", de curadoria do pesquisador sobre a participação de Natal na Segunda Guerra, Fred Nicolau. Trata-se de um ambiente imersivo, com paredes pintadas na cor azul, simbolizando o céu. No centro da sala, fica posicionada uma miniatura Boeing B-314 Dixie Clipper, hidroavião usado por Roosevelt e que pousou no rio Potengi no dia 28 de janeiro de 1943 para o famoso encontro com o presidente Getúlio Vargas.
As paredes contam com textos que explicam o encontro e dão mais informações acerca da Conferência do Potengi, junto de um poema de Câmara Cascudo sobre o assunto. Para completar a experiência, a sala tem caixas de som que tocam músicas da época e simulam barulhos que o avião fazia, como se ele estivesse passando por perto naquele momento. A miniatura do hidroavião fica suspensa em cabos e, abaixo dela, é exemplificada a importância geográfica de Natal na grande guerra, com a capacidade de ser rota aérea estratégica para o sucesso militar.
A visita continua com a saída para a varanda com vista ao rio Potengi. A visão aponta para onde oito décadas atrás os hidroaviões pousaram e os navios da delegação americana atracaram. Arcos foram posicionados no local com fotos das aeronaves e embarcações para que o público possa comparar o hoje com o passado.
A próxima sala entra de vez nos acordos firmados entre Brasil e Estados Unidos para culminar na Força Expedicionária Brasileira (FEB). O ambiente tem estilo militar, com as paredes pintadas em cores verdes, em alusão aos uniformes dos combatentes. A sala com um vasto acervo de material original dos expedicionários brasileiros, com fardamentos, insígnias, medalha, cantil, capacetes, entre outros artigos.
Uma parte do material de exposição fica disposta em caixotes também de temática militar. Há mais fotos da Conferência do Potengi e até uma escultura da famosa foto dos dois presidentes sorrindo dentro de um carro militar. Há textos espalhados pelo ambiente que explicam mais detalhes da FEB, inclusive a origem do brasão com uma cobra fumando.
Ainda dentro dessa sala, há uma porta que dá acesso a um pequeno cômodo chamado de blecaute. Dentro, tem apenas um rádio e duas luzes ligadas. O aparelho de comunicação repete uma mensagem de um locutor que pede para a população apagar as luzes de casa, registrando um temor de ataque aéreo na cidade, na época.
“A importância de você estar aqui é que você vai ver ao vivo e colorido o que o pessoal usava nas guerras. As fardas, o bibico, os dog tags, tudo coisa original e autêntica, tudo de verdade, dá para ver que está tudo usado. Eu pesquiso isso há 20 anos, então eu montei essa exposição aqui para comemorar os 80 anos do encontro entre os presidentes”, disse o curador Fred Nicolau.
Depois da guerra, a paz
Para contrapor a guerra, a visita segue com a sala da paz. A sala é repleta de pessoas que lutaram pela paz mundial e mensagens que reforçam a ideia de um mundo sem guerras e sem violência. Na entrada há uma escultura da obra Guernica, do pintor espanhol Pablo Picasso, ressignificada com palavras que conclamam a paz.
Responsável por desenvolver o ambiente, o diretor do Museu da Rampa, Crispiniano Neto, afirmou que o objetivo é aliviar a experiência dos visitantes, para que a carga da guerra e da violência fiquem de lado e se cultive a paz.
“A gente teve o cuidado de não endeusar a guerra. O contraponto da guerra é a paz. Não é que a gente está querendo dizer: 'ah, que legal, teve a guerra'. Não, teve guerra porque houve uma situação no mundo que precisou mudar. Se o Nazismo toma conta do mundo, imagine a tragédia. Já foi uma tragédia em si, com 60 milhões de mortes entre militares e civis”, disse Crispiniano Neto.
Ele lembra das dezenas de guerras espalhadas pelo mundo em andamento neste momento, para reforçar essa reflexão no público. O diretor ainda disse que as exposições são temporárias, até que haja uma definição para a implementação definitiva do Complexo da Rampa, após o cancelamento do acordo anterior.
“Daqui a alguns meses vamos ver o espaço de Augusto Severo, museu da aviação, que fica no outro prédio. Agora é uma questão de consolidação, o Museu da Rampa está aberto, o start já foi dado”, afirmou o diretor.
Museu traz telas com Natal do século XX
Para finalizar o passeio, o último ambiente é uma exposição de pinturas do artista visual potiguar Pedro G rilo, morto no ano passado. São cerca de 60 quadros que representam uma Natal provinciana do século XX, que conecta o visitante à capital potiguar da época temática do museu. A responsável pela curadoria é a presidente da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, Adélia Costa, que também era amiga do artista. Ela diz que os quadros mostram uma Natal que não existe mais. “Ele pintou Rocas, Ribeira, muitos monumentos que não existem mais, muitos ligados a questão do Rio Potengi, onde girava toda a industrialização e modernização de tecnologia, em primeiro momento pelos trens e também com os hidroaviões”, destacou Adélia Costa. Quem for visitar ainda pode conferir o pôr do sol de um dos lugares mais privilegiados de Natal. Quem esteve no Museu da Rampa no dia da inauguração foi o bugueiro e guia turístico Roberto Lira. E ele gostou do que viu, tanto que agora leva os seus clientes para conhecer. Nessa terça, ele levou o turista paraguaio Ricardo Ortiz. “É um espetáculo. Precisava ter isso e aberto ao público. Ele, que é paraguaio vai conhecer um pouco da nossa história, isso aqui é nossa história e culturar”, declarou o bugueiro. Serviço Exposições no Museu da Rampa Quando: aberto de terça a domingo Horário: das 10h às 17h para visitação das exposições (até às 18h para ver o pôr do sol) Entrada: Gratuita
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