
Com uma programação que se estendeu de 10 a 20 de janeiro, a festa de São Sebastião atraiu milhares de devotos | Foto: Adriano Abreu
Milhares de pessoas, devotas de São Sebastião, tomaram as ruas do Alecrim na tarde desta segunda-feira (20) durante a tradicional procissão em homenagem ao santo. Predominantemente vestidos com roupas vermelhas, os fiéis louvaram, rezaram e agradeceram pelas graças alcançadas diante daquele que é considerado o protetor contra doenças, guerras, fome, tempestades e enfermidades que afetam os animais.
De joelhos, a jovem Syulene Alves, de 21 anos, percorreu a igreja em direção ao altar para orar e agradecer. Ela nasceu com uma doença e, após sua avó fazer uma prece a São Sebastião, foi curada da enfermidade. Em retribuição, todos os anos ela acompanha a procissão descalça. “Minha família é muito devota e, desde que eu fui curada, participo da procissão pagando a promessa que minha avó fez, mesmo ela já não estando mais aqui”, disse.
Moradora do bairro, Syulene também frequenta as novenas, celebrações diárias realizadas durante os nove dias que antecedem o dia do santo. Ela não é a única a demonstrar gratidão. Danielle Pereira, de 39 anos, também segue o cortejo descalça. “Todas as minhas causas que eu peço a ele, eu alcanço. Comecei há uns vinte anos, acompanhando a minha mãe, sempre de vermelho, branco e descalça”, explicou.
A tradicional festa em homenagem ao santo não se restringe ao calendário religioso da capital potiguar. Para muitos, como Danielle e Syulene, a celebração se confunde com suas próprias histórias de vida. Vera Lúcia Rocha, de 77 anos, relembra como levava seus dois filhos adotivos para a igreja. Hoje, mesmo distantes, ela continua a tradição acompanhada de amigos. “Eu sempre vinha com minhas crianças. Já consegui muitas graças para mim e para outras pessoas. Tenho muita fé em Deus e em São Sebastião”, frisou.
Antes da procissão, é realizada a “missa dos peregrinos”, que atrai pessoas de todas as partes da cidade e até de municípios vizinhos. Há mais de 50 anos, Francisca Gomes, de 67 anos, não perde uma edição da festa. Ela conta que morava no Alecrim e, mesmo após mudar-se para o bairro Cidade da Esperança, na zona Oeste, sua devoção permaneceu intacta. “A minha história começa aqui. Minha mãe me trazia desde os 11 anos de idade, e essa devoção nunca parou. Eu venho de onde estiver morando”, afirmou.
Nos momentos de maior aflição, Francisca diz encontrar conforto nas orações direcionadas ao santo, como ocorreu durante a pandemia de covid-19, um dos períodos recentes mais tensos da humanidade. “A covid foi um período de dor, de desespero, de medo. E me apeguei muito a ele, que é o santo que protege das doenças, da peste. Eu nunca tive a doença e poucos familiares chegaram a ter, graças a Deus e a São Sebastião”, relatou.
Onze dias de festa
Com uma programação que se estendeu de 10 a 20 de janeiro, a festa de São Sebastião atraiu centenas de devotos. Padre Valberto, que está em seu primeiro ano à frente da paróquia, destacou a importância histórica e espiritual de São Sebastião, lembrando sua trajetória de fé e martírio. “São Sebastião era um guarda militar do Império Romano que também servia ao Império de Cristo. Quando sua fé cristã foi descoberta, ele enfrentou um julgamento injusto, foi alvejado por flechas, mas sobreviveu milagrosamente”, conta o religioso.
Ele ressalta que o então militar retornou ao imperador para testemunhar esse milagre, mas foi condenado à morte a pauladas. “Esse martírio inspirou outros cristãos a aderirem à fé”, relatou o pároco.
Durante os dias de celebração, a programação incluiu novenas diárias, sempre às 19h, na Igreja Matriz, com a participação de diversos padres da Arquidiocese de Natal. No dia dedicado a São Sebastião – 20 de janeiro, dia em que foi morto – foram celebradas três missas durante a manhã, às 7h, 9h e 11h. À tarde, a missa dos peregrinos, presidida pelo pároco emérito, Padre José Freitas Campos, antecedeu a tradicional procissão com a imagem do santo, que percorreu as ruas do Alecrim. O encerramento ocorreu com a missa solene presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom João Santos Cardoso. “Muitos vieram pagar promessas e agradecer as graças alcançadas. É uma demonstração de fé e gratidão ao sangue deste mártir diante de Deus, intercedendo por todos nós”, comentou o pároco.
Fonte: Tribuna do Norte
コメント