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Escolas tradicionais têm redução de até 70% nas matrículas de alunos

  • Foto do escritor: Marcelo Furtado
    Marcelo Furtado
  • 26 de fev. de 2024
  • 5 min de leitura

Bruno Vital ESCOLAS PÚBLICAS TRADICIONAIS EM DECADÊNCIA No Atheneu, havia mais de mil alunos em 2017 e no ano passado foram apenas 300 matriculados. Escola chegou a ter 3 mil alunos - Foto: Magnus Nascimento


Escolas estaduais tradicionais de Natal enfrentam uma redução significativa de matrículas, que chega a 70%, desde a adoção do modelo integral de ensino, no qual o aluno fica por cerca de nove horas nas unidades de ensino. No Colégio Atheneu, o mais antigo do Rio Grande do Norte, com 190 anos de fundação, onde o modelo integral foi adotado em 2018, o número de estudantes passou de 1.060 em 2017 para 300 em 2023, de acordo com dados da própria instituição. O cenário de queda se repete em outra unidade referência da capital, a cinquentenária Escola Estadual Winston Churchill, onde as matrículas caíram pela metade, de 1.039, em 2016 – último ano de ensino regular – para 500 no ano passado.


Há consenso entre especialistas e gestores ouvidos é de que a ideia original da educação integral, onde a formação completa do estudante é priorizada, valorizando aspectos de aprendizado intelectual, emocional, científico e cultural, é o modelo ideal, mas a forma como ele vem sendo implementado no Rio Grande do Norte carece de melhorias. A ruptura cultural de modelos sem uma transição adequada e falta de estímulo e atrativos para que o aluno permaneça na sala de aula são as principais queixas.


De um ano para o outro, instituições, gestores, professores e estudantes tiveram que se adaptar a uma nova dinâmica de ensino, onde o horário letivo começa às 7h30 e vai até as 17h. No Atheneu, em Petrópolis, as mudanças tiveram um impacto imediato na oferta de vagas, explica o diretor da unidade Mauro Moura. “Como no modelo integral, o aluno passa o dia na escola, logicamente a gente reduz pela metade essa oferta de vagas. Foi uma queda brusca. Antes, a escola já chegou a ter 3 mil alunos nos três turnos, e hoje nós estamos com a oferta de 320 vagas em dois turnos. A gente tem estrutura para comportar mais e esperamos aumentar”, diz.


O novo modelo, acrescenta Moura, afastou um perfil específico da escola: o aluno que precisa trabalhar para ajudar a prover a família. “Essa queda se deve a essa mudança para integral, como essa questão dos horários ampliados. Nós sentimos muito isso aqui. Às vezes o aluno tem essa necessidade, de trabalhar no outro turno, ajudar a família, fazer um curso profissionalizante. Então, ele acaba saindo, deixando a escola de tempo integral e procurando uma escola de tempo regular para poder trabalhar, por exemplo, e concluir o ensino médio também”, comenta.


Na Escola Estadual Winston Churchill, na Cidade Alta, a situação é semelhante. A oferta de vagas para 2024 é 492, número bem abaixo das 1.039 vagas em 2016, no último ano de ensino regular, e mais distante ainda da década anterior, quando o Winston Churchill oferecia entre 2 mil e 3 mil vagas, antes da extinção do turno noturno. Desde a adoção do sistema integral, em 2017, a escola vem oferecendo em torno de 500 vagas por ano. O diretor da escola, Fernando Francelino, diz que a falta de atrativos é outro desafio do modelo integral potiguar.


“Por óbvio, a escola integral deveria ser a melhor escola pública, ficando atrás apenas dos centros profissionalizantes. Acontece que o jovem, no 2º ano, leva em consideração que ele precisa de um diploma. Então ele pensa: ‘o mesmo diploma que a integral dá, eu vou conseguir na regular’. Essa perspectiva, apesar da qualidade distinta, causa essa migração. A preocupação é que a escola integral não está tendo o devido chamamento que poderia ter, principalmente pelo poder de comunicação da Secretaria de Estado. A integral tem essa intenção de melhorar o nível da educação, é na escola integral que temos altos níveis de aprovação no Sisu e não vemos isso no senso comum, nas discussões populares”, diz o profissional.



Procura pelo ensino regular cresce

Em paralelo, o Instituto Padre Miguelinho, no Alecrim, outra escola histórica da região central de Natal, que funciona no modelo tradicional, com três turnos, registra o movimento inverso. Em 2024, a oferta de vagas aumentou 14%, de 1.400 para 1.600 diante da grande procura, na comparação com o ano anterior. A expectativa é de que as matrículas se esgotem nesta semana, de acordo com a diretora Christiane Alves. A gestora da unidade vê conexão entre o aumento de vagas no Instituto e a redução de matrículas nas escolas integrais próximas.


“Existe uma relação sim porque, como eles passam o dia inteiro no integral, eles não tem esse tempo para fazer outras atividades no outro turno, por questões de renda que a gente sabe que existe. Há uma necessidade das famílias de que eles trabalhem. A gente espera que até com esse Programa Pé-de-Meia, essa necessidade diminua e que os alunos procurem mais o ensino integral”, comenta.


IncentivosBuscando estimular a permanência escolar, o Governo Federal instituiu o Programa Pé-de-Meia, que oferece uma bolsa voltada para que os estudantes de baixa renda possam concluir o ensino médio. O prazo para a assinatura do termo de compromisso das redes federais, estaduais, distrital e municipais termina neste domingo (25).


O programa oferece quatro tipos de incentivos para os estudantes do ensino médio: incentivo-matrícula, pago uma vez por ano para aqueles que se matricularem; incentivo-frequência, pago em nove vezes durante o ano para aqueles que frequentarem pelo menos 80% das aulas; incentivo-conclusão, pago pela conclusão dos anos letivos, para aqueles que forem aprovados, participando das avaliações; e, o incentivo-Enem, pago uma única vez para aqueles que comprovarem a participação Enem.


No ato da matrícula, no início do ano letivo, o estudante do ensino médio receberá em sua conta poupança R$ 200. Com a comprovação de frequência, ele terá direito ao recebimento de R$ 1,8 mil por ano, em nove parcelas de R$ 200. Assim, o total por ano letivo será de R$ 2 mil. Ao concluir a última série, o aluno receberá R$ 3 mil na conta poupança, que equivale a R$ 1 mil por série. Aqueles que participarem do Enem receberão R$ 200. Assim, caso o estudante cumpra todos os requisitos estabelecidos ao longo dos 3 anos, ele terá recebido um total de R$ 9,2 mil.


Além disso, o Colégio Atheneu e a Escola Winston Churchill buscam implementar o ensino técnico-profissional, como forma de estimular a procura dos estudantes pelo ensino integral. A medida está em discussão com a SEEC e a expectativa é de que o modo técnico-integrado seja implantado a partir deste ano no Churchill a partir de 2025 no Atheneu.




Tribuna do Norte.

 
 
 

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